De Abuja a Accra, de Manaus a Manila, a mídia digital nativa está construindo novos tipos de organizações jornalísticas, informando comunidades desatendidas, cobrindo histórias muitas vezes negligenciadas por outros.
Os veículos que incluímos neste estudo nasceram online e distribuem seu conteúdo principalmente através de canais digitais. Para serem incluídos, eles tinham que produzir conteúdo original de notícias (não apenas agregar notícias de outros) e fornecer algum tipo de serviço público.
Procuramos organizações de mídia que fossem transparentes, apartidárias e não excessivamente dependentes de apoio governamental, e que igualmente se esforçassem para alcançar a independência financeira. Também tinham que ter publicado por um mínimo de seis meses no início de 2021, quando começamos esta pesquisa.
Encontramos um conjunto heterogêneo de meios de comunicação com base nesses critérios; mas, apesar de suas diferenças, havia alguns tópicos comuns marcantes.
Mais de 75% dos líderes de mídia têm formação em jornalismo e pouca ou nenhuma experiência comercial, porém 43% são os únicos responsáveis pela captação de recursos e desenvolvimento de negócios, além de atuarem como diretores, editores e muito mais.
Alguns dos projetos apresentados neste estudo são bem conhecidos das organizações jornalísticas, fundações e investidores de mídia. Sites de notícias premiados, como o Chequeado da Argentina, na América Latina, o Daily Maverick da África do Sul e o Malaysiakini do Sudeste Asiático, alguns dos quais têm mais de uma década de operação, servem como modelos para outros empreendedores do jornalismo. Mas você também vai encontrar uma lista cada vez maior de novos participantes que também merecem reconhecimento por seu trabalho (os nomes e URLs de todos os veículos neste estudo estão incluídos na seção “Sobre o estudo”, no final deste relatório).
Na SembraMedia, nunca fazemos nada sem primeiro estudá-lo. Os ensinamentos da nossa primeira edição do estudo Ponto de Inflexão, bem como o mapeamento contínuo de meios de comunicação em espanhol que realizamos para nosso Diretório de Mídia Digital, nos guiam em todos os nossos programas de treinamento, aconselhamento e consultoria.
As descobertas de nosso primeiro relatório Ponto de Inflexão nos ajudaram a criar nosso acelerador de negócios de mídia, o Velocidad, que administramos em parceria com o ICFJ, graças ao apoio da Luminate, (que também financiou estes estudos).
Lançamos o Velocidad em 2019 com uma ampla campanha promocional e recebemos quase 350 candidaturas de 18 países da América Latina. Após um rigoroso processo de seleção, selecionamos 10 organizações de mídia nativa digital para a Fase 1, combinando US$ 350.000 em subvenções com centenas de horas de consultoria empresarial e treinamento durante seis meses.
Depois, reduzimos esse grupo às seis organizações de mídia que apresentaram os melhores resultados, e combinamos um adicional de US$ 467.000 em subvenções com apoio de consultoria durante 10 meses. Concluímos a fase de aceleração do programa em setembro de 2021, exatamente quando terminamos este relatório. Incluímos aqui alguns destaques para compartilhar o que aprendemos e os resultados do programa. Resultados do Velocidad: Mesmo os consultores de mídia mais experientes não podem atender a todas as necessidades complexas desses empreendedores de jornalismo. É por isso que criamos um modelo que combinava cada subvencionado com um dos cinco consultores estratégicos; estes se reuniam semanalmente com aqueles para elaborar e implementar planos de ação. A partir daí, contratamos mais de 40 consultores táticos especializados em finanças e contabilidade, otimização de motores de busca e tecnologia de anúncios, desenvolvimento de produtos e outros, para oferecer suporte especializado.
“Quando vimos o gráfico de monitoramento financeiro que elaboramos com o consultor, percebemos o pouco que estávamos investindo na área comercial e o quanto estava sendo direcionado aos custos operacionais. Aprendemos que se quisermos que o El Pitazo seja sustentável, devemos investir mais na área comercial”, Yelitza Linares, gerente de negócios e estratégia da El Pitazo.
“Quando vimos o gráfico de monitoramento financeiro que elaboramos com o consultor, percebemos o pouco que estávamos investindo na área comercial e o quanto estava sendo direcionado aos custos operacionais. Aprendemos que se quisermos que o El Pitazo seja sustentável, devemos investir mais na área comercial”
Yelitza Linares, gerente de negócios e estratégia da El Pitazo
De longe, a consultora tática mais solicitada foi Mariel Graupen, uma especialista em RH que ajudou os participantes a aprimorarem suas habilidades de liderança e a gerenciar melhor suas equipes.
“A Mariel nos ajudou a definir melhor os papéis de cada membro da equipe, começando com o diretor e o editor. Esclarecemos tarefas e responsabilidades em toda a redação e na equipe da agência, o que nos permitiu trabalhar com mais agilidade e eficiência”, comentou Alejandro Gómez Dugand, diretor da Cerosetenta, da Colômbia.
Durante o programa, avaliamos muitos tipos de impactos, incluindo como esses veículos formavam parcerias ou adotavam novas tecnologias, incluindo sistemas de gerenciamento de relacionamento com clientes, plataformas de pagamento de programas de membros e outras soluções tecnológicas.
Nosso principal objetivo era melhorar sua sustentabilidade, e medimos de perto os resultados financeiros, assim como os tipos de novas fontes de receita. A tabela a seguir fornece um detalhamento dos resultados.
No final da Fase 1, as novas receitas eram provenientes principalmente de serviços de consultoria e conteúdo, subvenções e programas de membros (nessa ordem). Com base em nossa experiência, são necessários pelo menos seis meses para que se comece a ver resultados em programas como estes.
“Os meios digitais que fazem jornalismo independente na América Latina são tão diversos quanto nossos países, nossas culturas e nosso público, mas, ao mesmo tempo, nós compartilhamos dificuldades semelhantes”, disse Chani Guyot, diretora da RED/ACCIÓN, da Argentina. “Ser capaz de compartilhar problemas e soluções com os outros dez participantes do Velocidad nos ajudou a crescer”.
Ainda não existe um termo técnico preciso para distinguir, neste estudo, as mídias que nasceram online de sites e outros produtos jornalísticos digitais criados por jornais, revistas, emissoras de rádio ou televisão.
Na SembraMedia, preferimos o termo mídia nativa digital, e o usamos novamente neste relatório por coerência, mas reconhecemos que alguns preferem mídia digitalmente nativa, e outros agora as chamam de mídia primariamente digital, um termo que estamos considerando usar no futuro. Geralmente evitamos chamá-las de startups porque algumas estão funcionando há mais de 20 anos.
Em favor da brevidade e da variedade neste relatório, também usamos termos mais gerais, incluindo: mídia digital, players digitais, empreendimentos, organizações e projetos. Também utilizamos indistintamente empreendedores de jornalismo, fundadores de mídia e líderes de mídia.