Nossas recomendações estão baseadas nos resultados das nossas pesquisas e em mais de seis anos trabalhando diretamente com jornalistas empreendedores nos nossos programas de treinamento e consultoria na SembraMedia.

Nesta seção final, oferecemos recomendações para líderes de mídia e para futuros fundadores de mídia, bem como para investidores, fundações, instrutores e outros que compartilham conosco a paixão por apoiar o jornalismo independente.

Recomendações para fundadores e líderes de mídia

Começamos com nossas recomendações para líderes de mídia, porque ajudá-los a ser mais bem-sucedidos é sempre a nossa principal prioridade. Se vocês estiverem lançando ou criando uma empresa jornalística digital, recomendamos que:

• Sejam gentis com vocês mesmos e com suas equipes e, quando as coisas não funcionarem conforme planejado, tentem aprender com a experiência e sigam em frente. Criar uma nova empresa é difícil inclusive nas melhores circunstâncias e até mesmo os empresários mais bem-sucedidos cometem erros nesse processo;
• Montem uma equipe que inclua pessoas com experiência comercial, em negócios, contabilidade e tecnologia, além de jornalistas e editores, que sabemos que são essenciais para sua empresa de notícias;
• Diversifiquem suas fontes de renda, mas façam-no aos poucos. Descobrimos que a maioria das organizações de notícias nativas digitais podem gerenciar com eficiência apenas um ou dois novos projetos por vez;
• Alinhem seu conteúdo editorial a propósito de sua organização e utilizem métricas, comentários de redes sociais e pesquisas para assegurar-se de estarem realmente respondendo às necessidades de seu público;
• Procurem maneiras de tornar o trabalho administrativo mais eficiente, investindo em software de gerenciamento de negócios e em outras ferramentas que melhorem o fluxo de trabalho;
• Formem parcerias para fazer com que seu público cresça, para comercializar novos produtos e criar novas oportunidades de renda;
• Solicitem subvenções, mas não dependam excessivamente do apoio de doadores. Ao desenvolver propostas de orçamentos para subvenções, certifiquem-se de incluir pelo menos 10% para as despesas gerais e comerciais. E, sempre que possível, usem subvenções para fortalecer suas organizações, criar novas fontes de receita e produzir jornalismo de qualidade;
• Monitorem sistematicamente seu impacto jornalístico e compartilhem seu sucesso estrategicamente para atrair subvenções, receita de leitores e novos públicos;
• Invistam tempo e recursos para entender melhor quais são suas melhores opções tecnológicas, de WordPress a plataformas de pagamento. Apressar-se e adotar novas soluções tecnológicas ou tentar criar seus próprios programas de tecnologia, sem comparar todas as opções disponíveis, pode levar a erros onerosos;
• Procurem oportunidades de treinamento, não só para vocês, mas também para suas equipes. Alguns lugares que recomendamos para estar à par das tendências, para procurar oportunidades e aprender novas competências:
  • Escola online, blog e estudos de caso em espanhol da SembraMedia
  • O ICFJ oferece treinamento e bolsas, e a newsletter da IJNet é o espaço ideal para encontrar uma ampla gama de oportunidades de subvenções e treinamentos em oito idiomas
  • O Knight Center for Journalism no continente americano oferece MOOCs em inglês, espanhol e português
  • Escola online da Splice Media e serviços de consultoria na Ásia.
  • A Southeast Asia Technical Assistance Initiative
  • O South Africa Media Innovation Program do MDIF.

Recomendações para financiadores

No nosso primeiro relatório, recomendamos que as fundações forneçam subvenções não apenas para reportagens e outros tipos de trabalhos jornalísticos, mas também para ajudar jornalistas empreendedores a contratarem, gerenciarem e criarem equipes profissionais comerciais, de contabilidade e negócios, e também para dedicar recursos para aumentar o público, desenvolver produtos e para a tecnologia.

Nos anos transcorridos desde nossa primeira pesquisa, nós nos inspiramos na maneira com a qual fundações e outras organizações de apoio parecem estar prestando mais atenção à importância da sustentabilidade da mídia.

Dezenas de organizações nos informaram que nosso primeiro relatório as ajudou a entender melhor a necessidade — e o potencial — que esses meios de comunicação têm de funcionarem sem apoio financeiro no longo prazo, e isso as encorajou a pressionar os líderes da mídia para se tornarem mais independentes do ponto de vista financeiro.

Porém, neste relatório, nós nos sentimos compelidos a fazer uma advertência: criar organizações de mídia sustentáveis leva tempo, e cortar fundos de forma abrupta pode ter efeitos devastadores para elas.

No ano passado, nos nossos programas de treinamento, alguns líderes manifestaram que algumas das fundações que os apoiaram por anos estão agora deixando de dar apoio financeiro — às vezes avisando os líderes de mídia com uma antecedência de apenas uns poucos meses.

Nossa recomendação para os financiadores que estão considerando cortar ou reduzir as subvenções, especialmente depois de anos de fornecer um apoio importante, é notificar essas organizações de mídia com um ano de antecedência, no mínimo, e considerar fornecer uma quantia extra como subvenção final, para ajudá-las a se tornarem economicamente independentes.

Recomendações para empresas de tecnologia

Em muitos dos países estudados neste relatório, os líderes de meios de comunicação têm discussões acaloradas com o Google, o Facebook e outras grandes empresas de tecnologia, sobre todos os tipos de assuntos, desde quanto as organizações jornalísticas devem ser pagas por seu conteúdo até como os algoritmos costumam favorecer a desinformação em vez de favorecer as matérias baseadas em fatos. O resultado dessas discussões, que em alguns países levaram a ações judiciais e a novas regulamentações governamentais, pode representar uma mudança radical na forma como as organizações de mídia objeto deste estudo atingem o público e ganham dinheiro.

O escopo deste relatório não inclui a análise de todas as complexidades desses assuntos, mas compartilhamos as preocupações expressas pelo Grupo de Trabalho sobre Sustentabilidade do Jornalismo no seu relatório, agudo e visionário, de junho de 2021, A New Deal for Journalism. Nele, eles afirmam: “O risco de políticas mal concebidas ou desequilibradas neste espaço é que elas beneficiam apenas alguns grandes veículos ou entidades tradicionais em detrimento de jovens nativos digitais, elas fazem com que seja impossível alcançar acordos e provoca saídas de mercado disruptivas; e/ou elas dão ao governo um controle mais direto sobre os meios de notícias independentes, as quais deveriam deter o poder de prestar contas”.

Com base nas entrevistas realizadas para esta pesquisa, fazemos aqui duas recomendações, claras e relativamente simples, ao Google, Facebook, Twitter e a outras plataformas de tecnologia:

Em primeiro lugar, desenvolver melhores formas para que os jornalistas e líderes de mídia possam ter seus perfis verificados.

Em segundo lugar, e talvez mais urgente, criar um processo claro para que as mídias de todos os tamanhos possam apelar contra a retirada de conteúdo, de modo que suas atividades jornalísticas voltem novamente a estar online, de forma rápida, quando as informações forem removidas ou os perfis forem suspensos.

As empresas que oferecem soluções de código aberto e soluções comerciais, como o WordPress, devem ajudar os líderes de mídia a entenderem melhor as diferenças nos custos, para que eles tenham uma melhor compreensão de quando os serviços premium realmente os beneficiam e de quando contratar um programador local pode gerar economias de longo prazo.

Os desenvolvedores de software devem fornecer suporte técnico e materiais de treinamento em mais idiomas (tradução não é excessivamente caro) e tornar as ferramentas mais acessíveis para os líderes de meios de comunicação que não falam inglês; isso não apenas os ajuda, mas também é uma possibilidade de abrir novos mercados.

Recomendações para universidades e instituições que oferecem capacitação

Expandir os programas de jornalismo e os programas de treinamento para incluir competências de negócios, de gerenciamento e de tecnologia para empreendedores do jornalismo.

Criar programas de treinamento para ensinar jornalistas a contratarem e gerenciarem a equipe comercial e de desenvolvimento de negócios.

Treinar jornalistas e líderes de meios de comunicação para que aprendam a monitorar sistematicamente o impacto de seu trabalho a fim de melhorar suas competências de recrutamento e retenção de talentos, de construir o engajamento do público e de fortalecer campanhas de marketing e projetos de solicitação de subvenções.

Incluir a medição do impacto nos programas das faculdades de jornalismo e nos cursos de treinamento em jornalismo, para que a próxima geração de jornalistas e líderes de meios de comunicação entre no ecossistema já equipada com essas competências essenciais.

Fornecer mais treinamento em tecnologia para jornalistas, especialmente em áreas emergentes promissoras, como o uso de ferramentas de IA para aprimorar os processos da redação. Aqueles que usaram IA para aprimorar os processos da redação manifestaram ter obtido três vezes mais de receita do que aqueles que não usaram essas ferramentas.

Ajudar a mídia a entender melhor quais canais de redes sociais ou aplicativos de mensagens podem ser melhores para contatar e engajar suas comunidades.

Incentivar e apoiar jornalistas para que desenvolvam competências em análise de métricas, desenvolvimento de produtos e outras especialidades cada vez mais importantes nas equipes de mídia.

Continuar pesquisando e experimentando novos modelos de negócios, desenvolvimento de produtos e fontes de receita.

Recomendações para organizações de apoio à mídia

Tornar mais fácil para os empreendedores de jornalismo encontrar — e poder ter direito a — aconselhamento jurídico gratuito e outros serviços especializados.

Fornecer aconselhamento jurídico para a formação de empresas e organizações sem fins lucrativos e ajudar as organizações que criaram novas empresas nos Estados Unidos ou em outras partes do mundo a superarem as dificuldades legais locais ou a aceitarem pagamentos internacionais.

Oferecer oportunidades de networking para líderes de mídia nativa digital para compartilhar melhores práticas e criar parcerias.

Expandir o marketing e os contatos internacionalmente para ajudar mais jornalistas a se manterem mais informados sobre bolsas de estudo de prestígio e outras oportunidades de treinamento.

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