As organizações de mídia nativas digitais em nosso estudo de 2016 usavam bastante as redes sociais para distribuir seu conteúdo, e muitas conquistaram um número substancial de seguidores. Nossa análise mostra resultados semelhantes para este estudo.
Mais de 90% dos sites em nossa amostra global informaram usar o Facebook e o Twitter; mais de 80% usam o Instagram; e cerca de 70% usam o YouTube. Aproximadamente 27% usam o LinkedIn, e 10% usam o TikTok. De modo notável, somente duas organizações informaram utilizar o Snapchat.
Mudanças desde nosso estudo de 2016 incluem uma queda no uso do Snapchat; 6% das organizações na América Latina informaram utilizá-lo há três anos.
Em contraste, o Instagram, na América Latina, cresceu de 62% para 96% desde nosso primeiro estudo. Em todas as regiões, 80% das organizações neste estudo informaram ter uma conta no Instagram em 2019.
A audiência das redes sociais varia muito entre essas organizações, mas muitas atraíram milhões de seguidores e dependem fortemente das plataformas sociais para distribuir seu conteúdo e interagir com sua comunidade de leitores.
O Malaysiakini, na Malásia, por exemplo, que publica em vários idiomas, tem 1,4 milhão de seguidores em seus perfis em inglês e malaio no Twitter, e 5,2 milhões de seguidores no Facebook em suas páginas em inglês, malaio e chinês. O IDN Times, na Indonésia, tem mais de 2 milhões de seguidores no Instagram.
No México, a Sopitas, que cobre notícias, esportes e entretenimento, tem mais de 3 milhões de seguidores no Twitter.
A Ameyaw Debrah, de Gana, redação de uma pessoa só que cobre notícias mundiais, cultura, artes e entretenimento, tem 1,2 milhão de seguidores no Twitter.
No entanto, o número de seguidores varia amplamente entre os veículos deste estudo. O número médio de seguidores no Facebook foi de 148.829; no Twitter, 115.549; no Instagram, 53.411; e no YouTube, 48.818.
As redes sociais são um canal de distribuição importante para muitas dessas organizações e as ajuda a estender seu alcance para públicos que talvez não as encontrassem por meio de outros canais. Vimos muitos exemplos de sites que usam as redes sociais de maneiras verdadeiramente inovadoras.
O ConexiónMigrante, no México, por exemplo, responde a mensagens de voz enviadas através do Facebook Messenger, bem como do WhatsApp, para alcançar os membros mais vulneráveis e às vezes analfabetos de seu público.
E algumas das mídias deste estudo publicam apenas nas redes sociais. Na África do Sul, a Hashtag Our Stories utiliza o Snapchat como seu principal canal de distribuição, enquanto a The Continent compartilha seu jornal digital quase que exclusivamente via WhatsApp.
Quase 25% dos sites que entrevistamos vendem menções ou patrocínio em suas postagens, embora esse número seja um pouco menor na África, onde apenas 15% das organizações de mídia disseram que obtinham receita dessa forma em plataformas sociais.
Embora nossa pesquisa sugira que construir um site, em vez de depender apenas da mídia social, oferece mais oportunidades de receita, também descobrimos que os líderes de mídia com recursos limitados às vezes acham mais fácil (e mais acessível) começar nas redes sociais.
O Animal Político começou como uma conta de Twitter sob o nome Pájaro Político, antes de lançar seu site em 2010. Hoje eles são amplamente reconhecidos como um dos sites jornalísticos mais influentes no México, com milhões de leitores.
Existe um risco inerente em abrir mão do controle do relacionamento com seu público para as redes sociais.
Como muitas das organizações de mídia neste estudo dependem de plataformas de mídias sociais para obter tráfego, engajamento do público e muito mais, ter a conta suspensa pode ter efeitos devastadores em seu tráfego e impacto jornalístico.
Em conversas com lideranças de mídia, ouvimos relatos em primeira mão sobre o fechamento de canais do YouTube porque a cobertura de eventos violentos foi considerada uma violação das políticas ou porque políticos os acusaram falsamente de violações de direitos autorais quando usaram imagens de domínio público.
Quando os perfis foram suspensos, os líderes nativos digitais disseram que tiveram que entrar em contato com as plataformas para apelar da suspensão/banimento e retomar suas contas.
O crescimento dos aplicativos de mensagens e seu uso para disseminar desinformação tem sido bem documentado nos últimos anos, tornando-os uma plataforma importante, especialmente para a mídia especializada em verificação de fatos.
Mais da metade dos líderes de mídia digital entrevistados disseram que usavam aplicativos de mensagens para compartilhar conteúdo. Na África, esse número era de 66%; na América Latina era de 57% e no Sudeste Asiático, de 34%.
Esta é uma mudança notável desde nosso primeiro relatório Ponto de inflexão. Menos de 12% da mídia que entrevistamos na América Latina utilizava o WhatsApp em 2016.
O WhatsApp, que é de propriedade do Facebook, foi de longe o aplicativo de mensagens mais popular entre a mídia na América Latina e na África, onde é usado para compartilhar atualizações de notícias de última hora, bem como facilitar conversas com membros do público.
No sudeste da Ásia, o principal aplicativo de mensagens citado em nossas entrevistas foi o LINE, que pertence a uma subsidiária consolidada da gigante sul-coreana Naver e á SoftBank Corp.
O Telegram, desenvolvido por uma empresa de tecnologia com sede na Alemanha chamada Durov Software Industry, foi o segundo aplicativo mais popular no geral. Semelhante ao WhatsApp, era utilizado pelas organizações nas três regiões, embora uma quantidade muito menor.
Conforme destacado pela pesquisa de Laura Oliver para o Reuters Institute sobre o uso de aplicativos de mensagens pelo jornalismo no Sul Global, há preocupações de alguns editores sobre as desvantagens dos aplicativos de mensagens, especialmente o WhatsApp. Isso inclui os limites de tamanho dos grupos do WhatsApp e preocupações constantes em relação à privacidade dos dados.
Há evidências consideráveis de que o Telegram está crescendo em popularidade, principalmente porque ele oferece melhores recursos de segurança e pode suportar até 200.000 membros em um grupo, enquanto o WhatsApp permite apenas 256.
Outros aplicativos de mensagens utilizados por organizações em nossa amostra incluem Signal, Slack, Discord, Facebook Messenger e Viber.
As organizações de notícias neste estudo nasceram na Internet, então a tecnologia está em seu cerne — central para a forma como distribuem seu jornalismo e como interagem com seu público.
O modo como elas utilizam a tecnologia também afeta seus resultados financeiros. Em todas as três regiões, nossa análise descobriu que as organizações de notícias com um único funcionário pago responsável pela inovação tecnológica geraram três vezes mais receita do que aquelas que não tinham nenhum, mesmo quando não existia um funcionário dedicado à área comercial na equipe.
Aproximadamente 85% dos mais de 200 meios de comunicação entrevistados para este estudo construíram seus sites com o WordPress, um resultado que foi consistente em todas as três regiões. Para colocar esse número em perspectiva, a Automattic, a empresa que criou o WordPress, se orgulha de que 42% de todos os sites do mundo são construídos com seu sistema de gerenciamento de conteúdo (CMS na sigla em inglês).
A Automattic hospeda sites do WordPress.com — a versão comercial de seu CMS — em seus próprios servidores e cobra para que os editores os utilizem; esta versão é considerada o CMS principal e é utilizada por 56% dos sites que estudamos. Embora o WordPress.com ofereça um plano de serviço gratuito, o custo das personalizações, de modelos especiais a plugins, pode aumentar rapidamente. Nos níveis mais altos de suporte, os custos podem chegar a dezenas de milhares de dólares por mês. Isso levou fundações como a Knight Foundation a criar infraestruturas de tecnologia, temas para sites de notícias personalizados e outras soluções que eles recomendam e até custeiam para os seus subvencionados.
Por outro lado, a versão de código aberto disponível no WordPress.org é gratuita. Frequentemente, é incluído como uma “instalação em um clique” nos pacotes padrão da maioria dos serviços privados de hospedagem na web, como GoDaddy, GreenGeeks e DreamHost. Além do menor custo inicial, a versão de código aberto oferece maior quantidade de opções de personalização. A desvantagem é que ele exige que seus usuários gerenciem sozinhos todo o desenvolvimento e manutenção de tecnologia, o que pode expô-los a riscos maiores de ataques digitais, bem como de travamentos de sites. Esta versão do WordPress é utilizada por 27% dos sites os quais avaliamos.
Com uma receita anual tão baixa, a maioria das organizações de mídia neste estudo simplesmente não pode pagar os produtos e serviços técnicos que são comumente utilizados por organizações maiores e em países mais ricos.
Por exemplo, o Newspack, um projeto conjunto do WordPress.com e da Google News Initiative, “foi projetado para atender às necessidades de empresas jornalísticas digitais de pequeno e médio porte, poupando-as do fardo de desenvolverem e manterem sua própria infraestrutura de tecnologia”, de acordo com o site.
O preço é baseado na receita anual e, de acordo com o site, “os valores geralmente ficam entre 2,5% e 5% da receita anual de um veículo jornalístico”. Mas a receita anual mais baixa que eles utilizam para definir os preços é de US$ 250.000 por ano — muito mais do que a receita gerada por grande parte da mídia digital nativa nos países que estudamos. Mesmo em seu nível de preço mais baixo, o Newspack custa US$ 500 por mês, por site, tornando-o proibitivamente caro para as organizações deste estudo.
Embora haja uma versão gratuita e de código aberto do Newspack, você precisa de um desenvolvedor WordPress experiente para configurá-lo. Muitos líderes de mídia com quem conversamos em nossos programas de treinamento e aceleração disseram que nem sabiam que havia uma alternativa para o serviço premium e que simplesmente decidiram que não podiam usar o Newspack porque ele é excessivamente caro.
Não é que queiramos selecionar o WordPress ou o NewsPack — o alto custo de outras soluções tecnológicas também é uma carga para essas mídias — mas nossa descoberta de que a maioria das mídias nativas digitais neste estudo está usando a versão mais cara do WordPress torna esta categoria tecnológica especialmente importante.
Apesar do aumento nas transações online durante a pandemia, o uso relativamente baixo de cartões de crédito e de bancos comerciais nos países que pesquisamos limita a quantidade de organizações que obtêm receita através de vendas online.
De acordo com o Global Payments Report, da FIS, empresa de serviços financeiros, as despesas derivadas do comércio eletrônico global aumentaram 19% de 2019 a 2020, aumento que normalmente leva de dois a três anos. No geral, US$ 4,6 trilhões foram gastos em transações de comércio eletrônico em 2020. Para 2024, espera-se que essa quantia aumente para US$ 7,3 trilhões.
No entanto, menos de 30% dos líderes de mídia entrevistados informaram que usam algum tipo de sistema de pagamento online, requisito essencial para a venda de assinaturas, adesões ou produtos online.
O HumAngle, na Nigéria, afirmou que estava desenvolvendo um paywall para algumas matérias e que planejava lançar um programa de membros, mas interrompeu o desenvolvimento devido às dificuldades para implantar um sistema de pagamentos confiável.
A falta de confiança entre os consumidores também pode fazer com que as estratégias para gerar receita dos leitores sejam difíceis de colocar em prática.
O HumAngle também comentou que o público de fora da Nigéria não queria fazer pagamentos através de um endereço IP nigeriano por questões de segurança, e que abrir uma conta bancária internacional fora da Nigéria para contornar esse problema havia demonstrado ser difícil e proibitivo.
Encontramos 32 tipos diferentes de sistemas de pagamento sendo utilizados pelos meios de comunicação dos 12 países incluídos neste estudo. No entanto, mesmo aqueles que encontraram uma maneira de implementar esses serviços manifestaram que uma parte importante de seu público não possui os tipos de cartão de crédito ou de serviços bancários necessários para utilizá-los.
O PayPal, empresa financeira multinacional norte-americana, foi, de longe, o sistema de pagamento mais popular, usado por 26% das organizações de mídia neste estudo.
O Mercado Pago, plataforma de pagamento digital disponível exclusivamente na América Latina, foi o segundo mais popular, mas é utilizado apenas por 10 das 100 empresas de mídia entrevistadas na região. Este baixo nível deve-se provavelmente à complexidade técnica para implantar o sistema Mercado Pago, bem como a suas taxas relativamente altas.
O Stripe, empresa de serviços financeiros irlandesa-americana e uma das soluções de comércio eletrônico mais populares nos Estados Unidos, foi usada por apenas quatro dos meios de comunicação neste relatório. O Stripe só aceita cadastros de organizações de mídia com contas bancárias em três dos 12 países incluídos nesta pesquisa: Brasil, Malásia e México.
Para contornar esse desafio, alguns líderes de mídia recorreram à abertura de uma Delaware Corp nos Estados Unidos para poder abrir uma conta comercial e estar aptos para operar com o Stripe. Isso é motivo de preocupação porque, embora seja relativamente fácil abrir uma empresa nos EUA, as taxas anuais e os requisitos de declaração de impostos podem tornar essa opção complexa e cara.
Embora o uso da inteligência artificial (IA) não tenha sido difundido entre as organizações de mídia digital nativa que entrevistamos, aquelas que informaram utilizar IA para aprimorar os processos de redação também disseram ter observado um aumento muito maior da receita, de visualizações de páginas e usuários únicos.
Aproximadamente 10% afirmaram que estavam usando IA para fortalecer a criação de conteúdo ou aprimorar os processos da redação, e 12% afirmaram que estavam usando bots de IA como apoio do conteúdo jornalístico. Por exemplo, no Brasil, o site de notícias jurídicas JOTA está usando IA para rastrear a probabilidade de projetos de lei serem aprovados no Congresso.
Os sites da nossa amostra também estão usando IA para dar suporte à criação de conteúdo de texto convertido em áudio. O veículo de notícias da Nigéria, HumAngle, por exemplo, disse que sua oferta de texto convertido em áudio aumentou seu público com a inclusão de pessoas com baixos níveis de alfabetização e com deficiência visual, além de atrair leitores que fazem longos trajetos de casa para o trabalho. Outros sites estão usando IA para ajudar a personalizar o conteúdo.
A IA estava sendo usada por algumas redações para aprimorar os processos da redação através da segmentação inteligente do público (com base no rastreamento de leitores e nas tendências de consumo), da produção automatizada de newsletters e da transcrição de entrevistas.
É interessante destacar que a receita total para 2019 em organizações que utilizaram IA para aprimorar processos de redação foi três vezes maior do que naquelas que não utilizaram essas ferramentas, embora os dados não esclareçam se isso foi porque elas puderam investir mais em tecnologia. Ainda assim, isso sugere que estas organizações de mídia poderiam se beneficiar tanto em termos de alocação de recursos quanto de geração de receita, se recebessem mais treinamento sobre como usar ferramentas básicas de IA.